sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Vida de Pi e as escolhas que fazemos

Ricardo Icassatti Hermano

Assisti o filme A Vida de Pi no último sábado. Não escrevi nada sobre ele nos dias seguintes porque fiquei digerindo tudo o que vi e experenciei. É um filmaço. Desses que a gente vê poucas vezes no espaço de uma vida. Sabe por que? Porque nos faz pensar apresentando questões fundamentais através de um enredo no mínimo intrigante.

Cartaz do filmaço

Mas, antes de falar do filme, é preciso lembrar da polêmica em torno do livro que lhe deu origem e que ganhou o Man Booker Prize, o mais prestigiado prêmio de língua inglesa. O autor do livro, o canadense Yann Martel, revelou em uma nota de agradecimento que "a centelha de inspiração devo-a ao sr. Moacyr Scliar". Na verdade, o que ficou no ar foi a suspeita de um plágio descarado mesmo da obra de Scliar "Max e os felinos". E Martel não escreveu mais nada que valesse a pena ser lido. Nem antes nem depois.

Este é o livro de Scliar

No livro do brasileiro Scliar, o protagonista náufrago é um alemão fugindo do nazismo rumo ao Brasil, que se vê obrigado a conviver com um jaguar num bote salva-vidas. No livro canadense, o náufrago é indiano e estava imigrando para o Canadá com a família junto com a bicharada do zoológico que possuiam e se vê obrigado a conviver com um tigre num bote-salva-vidas. 

Convivência perigosa, mas possível e pedagógica

Assim é a vida. Scliar morreu em 2011 sem nunca ter acusado o plágio. O seu livro tem diferenças importantes em relação ao de Martel, que soube aproveitar melhor as possibilidades fantásticas abertas pela perigosa convivência de um homem e um grande felino no espaço de um bote salva-vidas. Mas, essa é uma discussão literária e eu quero falar do filme.

Tem um mundo mágico aí fora te esperando

Filme que não poderia estar em melhores mãos. O diretor é ninguém menos que Ang Lee, o homem certo, na hora certa e com o roteiro certo, escrito por David Magee. A história começa com o encontro de um escritor em pleno bloqueio criativo com o indiano Pi, agora um professor universitário vivendo no Canadá e com idade mais avançada. 

Ang Lee, esse filme não poderia ter outro diretor

O escritor havia conhecido o tio do indiano, não por acaso numa cafeteria. Entabularam uma conversa e o escritor acabou externando o seu problema criativo e sua dificuldade para acreditar em Deus. O tio - que é uma figuraça - recomenda então que o escritor procure seu sobrinho Pi e ouça a  sua história. Após ouvi-la, o tio garante que o escritor passará a acreditar em Deus ou, no mínimo, terá uma boa história para escrever.

Escritor resolve aceitar a sugestão do tio e não se arrepende

Para quem está preocupado com algum cunho religioso, pode relaxar. O filme não é sobre religião. Mas, fala de fé e de escolhas. De forma magistral, Ang Lee nos leva a pensar sobre as nossas vidas e nossas escolhas. Especialmente naquilo que escolhemos acreditar. São histórias dentro da história, que se encaixam, encadeiam, juntam, mapeiam, apontam, dirigem, esclarecem, iluminam ...

Já estive numa tempestade em alto mar

O filme é intenso, mas tão intenso, que assistimos seus 127 minutos em uma sala lotada e sem ar condicionado. Sequer nos demos conta disso. Muitas lágrimas rolaram, claro. Afinal, a história de Pi é um drama envolvendo uma situação absurda, limítrofe. Ela nos apavora, mas ao mesmo tempo nos mostra que não somos diferentes de Pi

Vida de náufrago não é mole não

Geralmente, associamos escolha a ação. Pensamos que escolher é resolver o que vamos fazer. Mas, em que escolhemos acreditar? Essa é a pergunta do filme. Essa é a pergunta que deveríamos nos fazer todos os dias. Nossas ações são apenas a decorrência dessa escolha crucial. 

Às vezes, precisamos de experiências radicais
para entender certas coisas

A Vida de Pi não é um bom nome. Ficaria melhor se fosse A Escolha de Pi ou simplesmente A História de Pi. Mas, isso é o de menos. O importante é que  se trata de um filmaço da categoria "imperdível" e com cotação cinco canecas do Café & Conversa. Veja o trailer.


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