domingo, 6 de maio de 2012

A Perseguição e as crenças do homem

Ricardo Icassatti Hermano

Qual é o seu limite? Não estou me referindo a bebida, sono, provocação ou fator de proteção solar. Estou falando de vida e morte. Qual é o seu limite de vida? Até onde você entende que vale a pena continuar vivendo? Aquele momento em que você simplesmente para de lutar e se entrega? Quando o medo da dor e da morte desaparecem e só fica a doce e morna ansiedade de descobrir o momento seguinte.

Essa é uma das questões centrais do filme A Perseguição, baseado no  conto "Ghost Walker", do escritor Ian Mackenzie Jeffreys, posteriormente estendido e transformado no romance "The Grey". Esse último também foi o título escolhido para o filme. Aliás, mais apropriado devido ao cenário onde ocorre a história, um deserto de neve no meio do Alasca. 

Cartaz do filme

O eletrizante e enxuto roteiro foi escrito a quatro mãos pelo próprio Ian Mackenzie e o diretor do filme, Joe Carnahan. A base é a luta do homem, suas crenças e inteligência contra a força bruta da natureza, aparentemente caótica. O homem sempre parece não pertencer ao mundo natural. Não sei como os animais ditos selvagens nos vêem, mas deve ser algo sobrenatural para eles. O fato de sermos os únicos seres sobre a Terra conscientes da sua finitude, nos lançou numa dimensão diferente. 

O problema não é a morte, mas o medo

Para suportarmos essa consciência sobre nós mesmos, criamos as religiões e a crença em Deus, destino, sorte, azar, alma, acaso etc. Desenvolvemos emoções e reconhecemos o drama da existência. Somos fracos, mas a capacidade de raciocinar nos permitiu criar instrumentos para sobreviver e nos sobrepor às intempéries e aos outros animais. Mas, nos equivocamos quando taxamos a natureza como "cruel" e acreditamos que devemos dominá-la. Com isso,  criamos o desequilíbrio e estamos nos destruindo como espécie. Sim, nós vamos destruir o nosso habitat até a nossa completa extinção, mas o mundo continuará existindo apesar e depois de nós. 

Quem está preparado para enfrentar situações-limite?

Voltando ao filme, não se trata de terror. Está mais para o suspense, mas também supera essa definição. É um filme agoniante como o fabuloso A Estrada, já comentado aqui no blog. Também é um filme que nos coloca frente a frente com a nossa impotência, nossa debilidade, nossa pretensa civilidade, nossa incapacidade de sequer acreditar, ter fé no que elegemos para nos confortar nos momentos ruins. Por isso, é um filme que nos faz pensar. Pelo menos a mim e meus filhos, porque vi muita gente sair para comprar pipoca logo após a cena em que um homem é dilacerado por lobos. E há quem não acredite na existência de zumbis ...

Esta cena lhe daria vontade de comer pipoca?

A história começa com a folga de uma equipe de petroleiros que trabalha em perfurações no Alasca no mesmo sistema das plataformas marítimas, passando um grande período no campo e desfrutando uma grande folga em seguida. Um dos problemas enfrentados pelos trabalhadores naquela região inóspita é o ataque de lobos. Esses animais caçam homens porque gostam da carne humana ou por se sentirem ameaçados por eles. Como a indústria petrolífera entrou no habitat dos lobos, o conflito é inevitável. 

Camaradagem é a única saída para os sobreviventes

No grupo que está saindo para a folga se encontra um elemento crucial para as petrolíferas, um caçador de lobos, John Ottway. O papel é interpretado por ninguém menos que Liam Neesom, o durão de Hollywood. O avião que leva a equipe topa com uma nevasca e cai. A partir daí, os poucos sobreviventes passam a lutar pela vida. Primeiro, para não congelar naquele deserto gelado. Segundo, para não serem mortos a dentadas por uma matilha de lobos.

Enfrentamento quase em igualdade de condições

Naturalmente, o caçador Ottway assume a liderança do grupo, pois além de ser o único que entende de lobos, também é o único que sabe as regras básicas da sobrevivência. As situações se assemelham, o que ocorre na matilha de lobos se repete no grupo de homens. A principal delas é o reconhecimento dos machos Alfa. Uma vez identificado o Alfa humano, o Alfa lobo passa a caça-lo. E aí vem toda a agonia do filme muito bem dirigido. Os cenários são estupendos e quase chegamos a sentir o frio cortante e debilitante, dependendo do ar-condicionado do cinema. 

Aqui não tem chapeuzinho vermelho, só lobo mau

O filme é sensacional e é uma pena que já esteja praticamente saindo de cartaz, pois só tem duas sessões diárias, uma no Pier às 13h15 e outra no Parkshopping às 21h40. Corra antes que acabe e você tenha que esperar sair em DVD ou na TV a cabo. O Café & Conversa foi, viu, gostou e recomenda. Veja o trailer:


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