terça-feira, 19 de julho de 2011

Morte na Esplanada - Capítulo 14


Ricardo Icassatti Hermano

Pessoalmente atingidos pela canalhada que tentou matar o delegado Alexandre Dantas e sua equipe, Kassatti e Romoaldo partiram para a ignorância (no bom sentido, nada a ver com a nova gramática do MEC). Agora a conversa é outra, a poesia tem outra rima, não tem mais esse negócio de "mimimi", nada de pegar leve, acabou a diplomacia, o bicho vai pegar e a dupla do Café & Conversa vai botar pra F.

São muitos anos de estrada, muita poeira, muita pancadaria no couro, muito rock'n roll na veia, muita luta, muito aprendizado, muitas cicatrizes, muitos amigos, muita quilometragem, muitas histórias. E lá na roça tem um ditado que é o seguinte: "Não mexe com quem tá quieto". E pra piorar, "They fucked with the wrong journalists".

Todo o poder de fogo da dupla agora estava a serviço do delegado e sua equipe para aniquiliar qualquer um suficientemente estúpido para tentar impedir a investigação do assassinato da ministra Sueli Sandoval, a famigerada SS.

Para isso, eles acionaram um amigo, um irmão em armas, do tempo em que a estrada era muito mais perigosa e letal, do tempo em que gente como Miguel Brochado e sua quadrilha já teriam virado couro de pandeiro ou estariam rodando bolsinha em algum cabaré na fronteira com o Paraguai. E amigo é para essas horas.

E aí? Estão gostando? Espero ter causado um monte de calafrios em vocês : ) Até eu já estou com raiva desse Miguel Brochado e sua malta. Daqui pra frente a Blog-Novela não vai dar mole pra mané. Aqui, quem não chora, não mama; aqui, ninguém mija fora do pinico; aqui, escreveu não leu, o pau comeu; aqui, ajoelhou tem que rezar; aqui, tudo tem consequência, não tem lugar para a impunidade.

Então, encham suas canecas com algo bem quente, vistam seus pijamas-ceroulas, calcem as meias, enfiem-se debaixo do edredon, apaguem as luzes, liguem o som do computador e gritem com as aventuras de "Morte na Esplanada", ao som de Bachman Turner Overdrive. Porque o bicho tá pegando ...




Morte na Esplanada

Capítulo 14

O delegado Alexandre Dantas voltou a se encontrar com a dupla do Café & Conversa em meio às obras de recuperação da Grenat Cafés Especiais. Como a gatíssima Gabriela havia prometido, não faltou café para turbinar as reuniões de pauta do blog. Sua mãe, Luciana, também já havia providenciado uma escopeta para ficar atrás do balcão. Disse que não ficou assustada com o tiroteio e que teria reagido se tivesse uma arma. Mulher brava ... baixinha então é fogo!

- Delegado, agora essa briga é nossa também - disse Kassatti.

- Não gostamos nem um pouco dessa história de destruirem a Grenat e colocarem as meninas daqui em perigo, especialmente a Gabriela - emendou Romoaldo.

- Não esqueça das manchas no seu terno risca de giz novo em folha.

- Tem razão. O meu terno ...

- Pelo o que eu vi naquele dia, a ajuda de vocês é muito benvinda. O que vocês podem fazer por nós?

- Vamos colocá-lo em contato com um amigo de outros tempos, quando a gente aventurava pelo mundo em busca de lutas que valessem a pena. A gente ainda continua fazendo isso, mas está difícil encontrar uma luta que valha a pena. No máximo, um entrevero aqui e ali, como naquele dia - disse Kassatti.

- E que amigo é esse?

- Alguém que conheceu a ministra lá no início e poderá apontar o caminho, mostrar o fio da meada para você chegar aonde quer. Nos falamos - disse Romoaldo.

Os três se despediram e seguiram cada um numa direção. Alexandre voltou para junto de sua equipe para saber se havia algum avanço na identificação dos atiradores.

- Alguma novidade dos atiradores?

- São dois matadores do tráfico. Ex-policiais que entram para quadrilhas no Rio de Janeiro, andaram recebendo treinamento das FARC nas favelas. Devem ter sido sub-contratados para despistar a fonte da encomenda - disse Rômulo.

- Já estava desconfiado. Pela sutileza e finesse do atentado ... Se tivesse dado certo, provavelmente iriam nos implicar com o tráfico de drogas. Mortos, como iríamos nos defender?

- As fichas deles na Polícia Militar não dizem muita coisa. Eles saíram de lá há muito tempo. Só umas faltas disciplinares e mais nada. Acho que vamos conseguir mais informações com nossos informantes lá no Rio - acrescentou Gabriel.

- E as notícias na imprensa? Alguma coisa?

- Sobre o atentado, só o trivial e a completa falta de informação sobre os atiradores e a motivação. A sua foto saiu de novo no jornal daquela jornalista.

- Mais alguma coisa?

- Só mais um grande escândalo. Dessa vez, com um figurão lá em Nova Iorque -Gabriel mostra a manchete e a foto do sujeito algemado, um senhor idoso e completamente grisalho.

- O que foi?

- O presidente de um desses bancos internacionais de fomento foi preso. A camareira do hotel onde ele estava hospedado, está acusando o cara de estupro. A polícia pegou o cara dentro do avião. Já estava fugindo.

- Lá nos Estados Unidos não tem lero-lero. Se fosse aqui, esse cara seria escoltado pelo presidente da República até o avião para ir embora e com um pedido de desculpa formal do governo brasileiro - disse Pablo, ajeitando a tipoia.

- Você morou lá um tempo, né?

- Foi na adolescência.

- Como é o esquema lá?

- O cara vai ficar preso. O advogado dele vai pedir ao juiz que estabeleça uma fiança e ele possa responder o processo em liberdade. A Promotoria vai esperar o resultado da investigação policial para apresentar a peça de acusação. Enquanto isso, o cara fica em cana.

- E pelo jeito, vai perder o cargo. Nenhuma instituição de ajuda a países pobres pode ter um presidente tarado estuprando camareiras de hotel. Ficou muito configurado o estereótipo do coroa rico e depravado que abusa da mulher jovem e pobre. Como é que um sujeito desse nível tropeça desse jeito? Já já começa a pipocar outras denúncias contra ele.

- Mas, o cara não é americano. É francês. Ele pode ficar preso? - perguntou Rômulo.

- Os jornais estão dizendo também que o cara é figura de ponta do Partido Comunista francês. Falam até que ele estava cotado para disputar a Presidência da França -completou Gabriel.

- Dentro do território americano não tem conversa. Cometeu crime? Foi pêgo? Vai preso. Ainda por cima em flagrante. Aí é que não tem conversa mesmo. Não interessa se é americano ou estrangeiro. E a justiça é rápida. Não tem essa lerdeza daqui não - disse Pablo.

- Aqui, até terrorista assassino confesso ganha proteção e tem vida boa. Pelo menos, esse escândalo ajuda a abafar um pouco o atentado e podemos investigar com mais calma e sem muita gente pentelhando ou atrapalhando. Vamos à luta?

No dia seguinte, o delegado recebeu um telefonema do blog Café & Conversa. Marcaram encontro numa rádio comunitária localizada no bairro chamado Lago Sul. A rádio tem duas características interessantes: é especializada em rock'n roll e é comandada por um padre.

Kassatti e Rômulo aguardavam o delegado na entrada do pequeno prédio onde ficava a rádio, atrás de uma igreja. Foram até um dos dois únicos estúdios. Através do vidro duplo, puderam ver um padre de bata preta, olhos fechados, com fones de ouvido e dançando alucinadamente ao som da trilha sonora de hoje. Alexandre ficou sem ação diante da cena.

- O que é isso? - perguntou o estupefato delegado.

- É o amigo do qual falamos, aquele que queremos te apresentar e que conheceu a ministra nos tempos da clandestinidade - respondeu Kassatti.

- É esse padre aí quem vai me ajudar?

- O próprio - sorriu Romoaldo.

Alexandre olhou novamente pelo vidro duplo do estúdio e viu em cima da mesa uma placa onde se lia: "Vive la mort, vive la guerre, vive le sacré mercenaire".

♦♦♦

Estamos recebendo colaborações importantíssimas. Vocês nem acreditariam o quanto. Uma delas veio da leitora Elina Rodrigues, que pegou a Blog-Novela já adiantada. Ele sugeriu que disponibilizássemos os links dos capítulos anteriores ao final de cada novo capítulo para facilitar a leitura. Adotamos imediatamente a brilhante ideia : )

Outra colaboração emocionante chegou poucas horas antes de postarmos esse capítulo. A nossa leitora e ativista ambiental de primeira linha, Telma Monteiro, não sabemos como, conseguiu arranjar tempo para ler a nossa Blog-Novela e deixar um comentário. Explico: há três dias, ela e seu marido foram vítimas de um atentado real. Incendiaram criminosamente a área de Mata Atlântica que ela protege e onde fica a sua residência. Por pouco não perdeu a vida.

Continuem enviando suas críticas, sugestões, ideias, sonhos, desejos, dicas, direções, alucinações. Aqui não tem miséria. Aproveitamos tudo! Também não esqueçam de utilizar o espaço reservado aos COMENTÁRIOS, logo aí embaixo. Abaixo dele, o Blogger criou uma novidade. Tem um quadradinho azul com o sinal + e o número 1. Clicando nele, ganhamos prioridade nas buscas do Google. Se você achar que merecemos, por favor clique lá : )

E como nos recomenda o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcast: Um abraço e bom café!

Links dos capítulos já postados. Basta clicar no capítulo desejado:














2 comentários:

AkiNaRoçaÉAssim disse...

Eitha! Como eu digo - Aqui na roça a gente ama, mas o sitema é bruto. Como bruta também é a realidade do nosso herói Alexandre. A do Romoaldo e a do Kassatti, então, é campo minado. (rs)

Achei legal a chegada da nova personagem, envolta no mistério por trás da bata. O passado pode até não esclarecer todo o mistério, mas pode abrir uma porta ou mostrar uma fresta. O passado é um dinossauro! (+rs)

A ideia dos links foi perfeita e necessária. "Demorô"!

À espreita,

Marven

Telma Monteiro disse...

Obrigada pela menção especial, Kassati. Adorei a idéia dos links dos capítulos, já que perdi os primeiros. Mas você não acha que está um pouquinho violento esse capítulo 14? Gostei do padre. Parece um que é meu amigo e que dirige a rádio comunitária lá em Santarém. Padre Edilberto, um ativista à antiga, aprendeu a se defender com os Munduruku e é engraçadíssimo, fala verdade e não tem papas na língua. Todos os políticos morrem de medo dele... Talvez possa servir de base para construir a personagem. Se quiser saber mais sobre ele, te conto!
Telma