quinta-feira, 30 de junho de 2011

Cocada de café, vai uma aí?


Romoaldo de Souza

Nós, aqui do Café & Conversa, resolvemos fechar, como se diz no futebol, com chave de ouro a série de receitas de Santo Antonio, São João e São Pedro, falando em nossa coluna diária na CBN Recife, da Cocada de Café.

Finalzinho das festas juninas, a gente que passou esse período escrevendo receitas à base de café, pulando fogueira e casando mesmo de mentirinha, hoje trouxemos a colaboração da estudante de Jornalismo, Andrea Felinni, de Pedra Azul, no interior do Espírito Santo. Nossa ouvinte ouve rádio o tempo todo e escuta a CBN Recife, pela internet e acabou mandando e-mail recomendando fazer cocada de café.

Olha, eu confesso que a Andrea, que tem sobrenome de diretor de cinema e curiosidade pelo mundo do rádio, vai dar uma boa contribuição para a gente encerrar essa série de receitas para as festas juninas.

Então, você vai precisar de ...

- 1 kg de açúcar

- 1 pacote de coco ralado

- 1 lata de leite condensado

- 100g de margarina

- 1/2 copo de café bem forte

Preparo

Leve todos os ingredientes ao fogo numa panela e mexa com uma colher de pau até soltar do fundo. Forre a bancada pia com margarina e coloque o conteúdo da panela sobre a bancada. Com uma faca, corte a cocada em formato de losango. Espere esfriar para servir e comer.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

TNT um campeonato de cafés, bem harmonioso


Romoaldo de Souza

Nesta quinta-feira (30) é dia, quer dizer, é noite de um campeonato saudável, cheio de novidades. É quando os baristas preparam suas ferramentas de trabalho - xícara, leite vaporizado e café e vão participar do TNT – sigla que em inglês quer dizer, Thursday Night Throwdow.

Sempre na última quinta-feira do mês, o TNT - essa competição amigável - serve para que os baristas mostrem aos clientes o que estão aprendendo principalmente na arte de fazer desenhos nas xícaras de cappuccino.

Em Brasília, este mês, o TNT vai ser no Rayuela Restaurante Cultural, Livraria e Bistrô • 412 Sul Bls. A e B Ljs. 3 e 37

Segundo o portal da Revista Espresso, em outras capitais rola TNT nas seguintes cafeterias:

São Paulo: Suplicy Cafés Especiais

Curitiba: Lucca Cafés Especiais

Salvador: Café Feito a Grão

Rio de Janeiro: Besi Café


Um abraço e bom café!


Morte na Esplanada - Capítulo 8


Ricardo Icassatti Hermano

Pois é ... a trama se complica a cada capítulo. Tenho recebido tantas sugestões legais que a história imaginada já tomou vários rumos. Como vai acabar? Ainda não sei, mas estou gostando : ) E vocês? Soube que tem gente que não dorme esperando sair um novo capítulo e isso muito me lisonjeia.

No capítulo passado, o delegado Alexandre Dantas e sua equipe quase pegaram o assassino francês, Gaston Perrin, que embarcou no mal fadado vôo 447 da Air France. Todos sabemos o que aconteceu com o avião, mas e o assassino? Estava mesmo naquele vôo? Se ele desapareceu no meio do Oceano Atlântico, também se foi a única chance de descobrir o motivo do crime?

Vamos tentar responder essas perguntas e as outras que surgirão ao longo da investigação do assassinato da ministra Sueli Sandoval, a SS. A vida é difícil, é luta, e rapadura é doce mas não é mole não. Fiquem agora com mais um capítulo da trepidante Blog-Novela "Morte na Esplanada" e seus mistérios misteriosos.

Mas, antes, prepare uma caneca de café, chá, chocolate quente ou qualquer outra bebida que goste. Depois ajeite-se, aconchegue-se ao seu cobertor de orelha, vista meias nos seus pés gelados para ninguém te confundir com a ministra morta, ligue o som do computador para ouvir a trilha sonora desse capítulo enquanto lê e rói as unhas.




Morte na Esplanada

Capítulo 8

O delegado Alexandre Dantas dispensou sua equipe. Não adiantava ficar no aeroporto. O avião não retornaria. O governo e a polícia francesa foram alertados e aguardariam o avião ainda na pista do aeroporto Charles de Gaulle para prender o assassino. O melhor a fazer era todos irem para o hotel dormir antes de retornarem a Brasília. Aqueles dias não haviam sido fáceis e estavam esgotados.

Apesar disso, Gabriel ainda continuou trabalhando com sua turma de hackers para desencriptar os pen drives da ministra e invadir os bancos de dados do serviço secreto francês. O relógio digital piscava 4:36 da madrugada, quando Gabriel bateu na porta do quarto de Alexandre. Bateu é modo de dizer, ele quase derrubou a porta.

Alexandre acordou alarmado, empunhou a pistola e apontou para várias direções até entender o que estava acontecendo. Levantou da cama e abriu a porta.

- Porra Gabriel! O que é que está acontecendo? Quer me matar de susto ou levar um tiro?

- Alexandre, você precisa ver isso, agora!

- Isso o que? O que eu preciso ver?

- Conseguimos abrir os arquivos que estavam nos pen drives da ministra. Você não vai acreditar ...

- Conseguiu? Mesmo? Você é foda! Entra aí, vou chamar o Pablo e o Rômulo.

- Não precisa, já chamei. Eles devem estar chegando.

Logo em seguida os dois chegaram correndo pelas escadas.

- Que porra é essa? Não se pode nem dormir mais, cacete! - rosnou Pablo. Para ele, dormir era um dos primeiros itens na sua lista de necessidades sagradas para ter qualidade de vida. Vinha logo depois de comer e ler gibis.

- Pô, eu estava sonhando com uma professora que eu tive no grupo escolar, lá no interior de Pernambuco, Dona Juciléia. A mulher tinha umas pernas maravilhosas e a molecada homenageava ela todo dia ... - disse Rômulo, esfregando os olhos e bocejando.

- O nosso gênio Gabriel e sua turma conseguiram abrir os arquivos da ministra. Vamos ver o que é que está agitando tanto o nosso gênio.

Gabriel abriu o laptop MacBook Pro 17 polegadas e foi mostrando os arquivos.

- Ela digitalizou todos os documentos que guardou desde o tempo de clandestinidade. Tem a contabilidade do dinheiro, de onde veio, cada assalto a banco, roubos, sequestros, grana de Cuba, para onde foi, inventário de armamento e munição, explosivos, propinas, endereços de esconderijos, listas de nomes com pseudônimos. Está tudo aqui. Depois vem a documentação da campanha presidencial, quem deu dinheiro, para onde foi, contas no exterior, pagamento de propinas, jatinhos, carros alugados, festas, cafetinas, prostitutas. Aí vem a documentação já no governo, a grana da corrupção, os operadores e isso é o melhor, os deputados e senadores que recebem uma espécie de mesada. Todo mês eles vão buscar em algum lugar. Geralmente é nesse Banco Agro Pastoril, mas o pagamento também é feito em quartos de hotel, apartamentos de outros deputados, ficam mudando.

- Isso vai cair feito uma bomba atômica lá em Brasília ... - pensou alto Alexandre.

- Ainda tem mais. A maior parte dos arquivos são gravações de vídeo e fotografias que ela fazia nas festinhas na casa dela e no gabinete. Separei algumas coisas aqui para vocês verem.

A primeira foto era de um deputado federal, líder do governo e ex-sindicalista pelego, numa orgia que, pelas fantasias e decoração ambiental, deve ter acontecido durante o Carnaval. O deputado estava absolutamente bêbado e nu. Para não dizer que estava completamente nu, trajava uma gravata e trazia um charuto na mão direita. Como o deputado era baixinho, a cena era de um ridículo surreal.

- Aposto que o charuto é cubano - disse Rômulo (gargalhada geral).

- Pelo menos nisso o filho da puta teve bom gosto, porque a gravata ... - acrescentou Pablo (mais gargalhadas).

Na foto seguinte, um ministro de estado ultra-poderoso, cotado até para ser o sucessor do presidente, trajando um robe de seda e pantufas. O ambiente era uma sala onde parecia estar acontecendo um encontro social, uma festinha privê. Alguns empresários pouco conhecidos e várias garotas lindíssimas dançando, inclusive as assessoras da ministra. Na mesa, vinho barato e uma bandeja de frios e queijos. Os quatro policiais já não bocejavam. Os olhos arregalados nem piscavam mais. Alexandre quebrou o silêncio.

- O filho da puta acha que é o Hugh Hefner ... (explosão de gargalhadas).

- E essas pantufas? Será que são da Hello Kitty? - perguntou Rômulo (mais gargalhadas).

- Rapaz, a corrupa deve estar correndo solta e esses criminosos perderam totalmente a cabeça. Quem nunca comeu melado ... - disse Pablo.

- Perderam a cabeça e, se depender de mim, vão perder todo o resto também. Essa grana aí é que deveria estar sendo investida em hospitais, escolas, segurança, esgoto, estradas, aeroportos, ferrovias, portos. Mas, está aí pagando prostitutas e enriquecendo esses babacas, pilantras que passaram os últimos 20 anos acusando todo mundo de ser ladrão e corrupto. Olha aí o que eles queriam quando chegassem ao poder. Ser exatamente iguais a quem eles acusavam. Tenho nojo dessa corja de pilantras, safados, mentirosos, bandidos - disse Alexandre rispidamente.

- Tem mais uma coisa, Alexandre ...

- Vamos lá, eu sabia que esse pesadelo ia ser comprido.

- Esses vídeos aqui, de reuniões, foram feitos no gabinete da ministra. Isso significa que tem uma câmera escondida lá. Deve ser daquelas mini, embutida em alguma peça de decoração e passou despercebida pela perícia. As últimas gravações ainda não devem ter sido baixadas da câmera ...

- ... e deve ter o assassino gravado lá - completou Alexandre.

- Ninguém vai dormir mais mesmo, então vamos fazer as malas e nos mandar mais cedo para Brasília. Gabriel, coloca num pen drive a parte dos documentos desde a campanha, as fotos das festas e os vídeos do ministro. Tenho uma bomba para detonar. Depois vá até o gabinete da ministra e ache essa câmera. Vamos torcer para que ela nos dê algumas respostas. Pelo jeito, juntando tudo, a grana, os passaportes e esses pen drives, a ministra montou um kit de sobrevivência política ou de fuga.

Do aeroporto Juscelino Kubitschek, o delegado seguiu em direção a um grande shopping da cidade enquanto o restante da equipe seguiu para o escritório. Todos tinham suas missões a cumprir. Alexandre seguiu para uma loja de instrumentos musicais onde a jornalista Violeta Dorso já o aguardava. Ele pegou um violão e foi para a cabine à prova de som para experimentá-lo. Violeta entrou junto com ele.

- Violeta, tudo bem?

- Tudo ótimo. O que está acontecendo Alexandre? Você me pareceu nervoso ao telefone. Achei que iríamos tomar um café ...

- Estou com uma bomba nas mãos, uma bomba atômica.

- Ôba! Posso saber o que é?

- Eu só falo dela se você me garantir que o seu jornal vai bancar. Não vou entregar essas informações e depois você me dizer que o jornal negociou ou amarelou e não vai publicar. Já passei por isso uma vez e não estou a fim de passar novamente. Preciso ter certeza.

- 100% de certeza eu não posso te dar. Não sou a dona do jornal. Mas, posso te prometer que, se for uma bomba mesmo, vou lutar pela matéria.

- Não sei Violeta. As informações que eu tenho vão contrariar grandes interesses. Atinge diretamente o grupo que está mandando no governo. Até você vai correr um grande risco.

- Já estou acostumada. Jornalista que não é ameaçado de morte pelo menos umas três vezes por ano, é porque está fazendo corpo mole (risos). O que eu posso fazer também é alertar o jornal que a minha fonte - você - vai procurar outros jornais se a gente não der. Perder um furo que tinha nas mãos é demais para qualquer jornal.

- Outra coisa. Meu nome não pode aparecer nisso, em nenhum momento. Entendido?

- Concordo totalmente. Mas, vamos ver o tamanho dessa bomba? Não estou me aguentando de curiosidade (risos).

- A parte mais importante está aqui nesse pen drive. Procure um lugar seguro para ver o que tem aí e se segure para não cair da cadeira. Você tem 40 dias. Depois disso, se a matéria não sair, vou botar a boca no trombone.

- OK.

- Vou para o escritório, mas não me ligue no telefone de lá. Se precisar falar comigo, entre em contato com o pessoal do Café & Conversa e eles me avisam.

- Conheço os dois. Pode deixar.

Rômulo entrou esbaforido na sala de Alexandre.

- O avião sumiu.

- O que? Que avião?

- O da Air France. Não chegou em Paris e estão procurando para ver se pousou em outro lugar. Provavelmente na África.

- Não é possível ... - o rosto de Alexandre empalideceu. Pela sua cabeça passava a absurda possibilidade de o assassino ter conseguido fazer com que o avião pousasse em outro país e fugido espetacularmente.

- Estão tentando contato com o avião e com o aeroporto no Senegal. O que sabemos até agora é que o avião já estava fora do limite de vigilância dos radares brasileiros. Ele desapareceu numa tal de Zona de Convergência Intertropical e pode ter sido atingido por uma tempestade violenta. Mas, por enquanto é tudo especulação. A única coisa certa mesmo é que o avião desapareceu, pois ninguém conseguiu fazer contato com ele.

Alexandre sabia que a investigação do assassinato da ministra poderia ter encerrado ali. Se o avião havia caído no meio do oceano, não haveria sobreviventes. Se o assassino estava mesmo no avião, levou o segredo com ele para o fundo mar. Eram muitos "se", mas o importante é que muita gente ficaria feliz vendo o caso dar num beco sem saída. Por outro lado, havia um escândalo sendo gestado.

A jornalista Violeta Dorso já havia lido e visto tudo. Iniciou uma investigação para verificar a veracidade daquelas informações e confirmou tudo. Além disso, conseguiu entrevistar com exclusividade uma testemunha das festas. Estava com a matéria pronta e o jornal entrou em contato com o ministro para ouvir seu lado da história. O ministro pediu, ameaçou, implorou e chorou. Em seguida, teve uma ameaça de enfarte.

Também contactado, o deputado líder do governo que estava bêbado e carnavalescamente nu numa fotografia, se atirou aos pés da repórter suplicando aos prantos que não publicassem a foto. Gritou que era pai de família e que aquilo acabaria com a sua "carreira" política. A repórter apenas sorriu satisfeita por não ter que aturar mais aquele lixo na cobertura diária do Congresso Nacional.

O escândalo atingiu todo o alto escalão do governo. Uma guilhotina virtual se instalou na Praça dos Três Poderes e cabeças rolaram como na revolução francesa. Enquanto isso, Alexandre e sua equipe foram acompanhar a investigação do acidente com o Airbus da Air France em Fernando de Noronha, onde estava a base de busca pelos destroços. Técnicos e militares brasileiros e franceses trabalhavam em conjunto e o Dr. Hamilton ajudava na autópsia dos poucos corpos que eram encontrados.

Numa das reuniões no final de tarde, quando era feito o balanço do dia, o comandante da operação apresentou mais um membro que se juntaria à investigação do acidente. Era uma investigadora da companhia de seguros que cobria a aeronave. Seu nome, Lígia DuPont.

Sua entrada na sala de reunião causou comoção. Mesmo que o ambiente estivesse pesado pela tragédia, a figura de Lígia era como um raio de sol mostrando que a vida continua e sempre há esperança de dias melhores. Não era particularmente alta, mas os saltos altos lhe davam imponência suficiente para afastar atrevimentos. Cabelos loiros como palha de milho e olhos num tom turquesa, que transitava naquela faixa indefinida entre o azul e o verde, combinavam divinamente com sua pela alva, quase marmórea. Tinha perfil de estátua grega e uma beleza olímpica.

Ela não era francesa, mas nascida em Quebec, no Canadá, onde a língua oficial é o francês. Sua família descendia dos primeiros colonos franceses que se estabeleceram onde hoje é o distrito de Pointe du Lac. Naquele final de tarde, ela trajava um tailleur Chanel com saia pouco acima dos joelhos. Logo se viu que havia acabado de desembarcar na ilha. Apesar de ser confeccionado em linho e parecer bem refrescante, sua roupa era inadequada para o tipo de trabalho em clima tropical. O seu próprio incômodo logo ficou evidente na completa ausência de sorriso em seu belíssimo rosto.

Após as apresentações formais, Lígia sentou-se em frente a Alexandre e ao lado dos técnicos franceses. Não falou durante a reunião, se limitando a ouvir os relatos e folhear alguns papéis. Parecia estar bastante focada no assunto e procurando tomar pé da situação. Uma semana já havia se passado desde o acidente e a sua função era mais a de acompanhar o desenrolar das buscas, recolher as informações disponíveis e remeter à sede da seguradora.

No dia seguinte, Lígia já havia providenciado roupas mais adequadas ao clima da ilha e ao trabalho ao ar livre: bermuda, camiseta de algodão e chapéu. As únicas instalações fechadas eram o necrotério montado para receber os corpos e as tendas onde eram feitas as reuniões. Os destroços eram colocados num enorme pátio para que os técnicos da Airbus e da Força Aérea francesa começassem as análises preliminares.

Alexandre estava numa ponta de pedra na praia, onde ia todas as manhãs para pensar e apreciar a visão do horizonte oceânico. Como viveu quase toda a sua vida em Brasília, estava acostumado aos grandes horizontes. Mas, quem vivia em lugares montanhosos ou cidades cheias de prédios, onde o horizonte "é logo ali", as amplidões visuais pode se tornar um problema. Psicólogos dizem que os grandes horizontes acabam nos levando para dentro de nós mesmos e quem não está habituado pode acabar se afogando no álcool ou nas drogas.

O fenômeno é bem conhecido em populações que vivem em ilhas. Fernando de Noronha não é exceção. Os moradores tem grandes problemas com alcoolismo. Anos antes, Alexandre havia feito uma viagem de veleiro ao arquipélago e viu que os jovens se divertiam bebendo dentro dos ônibus que circulavam gratuitamente até uma determinado horário. Muitas pessoas que vinham de outras cidades para morar em Brasília sofriam o mesmo problema. Não é todo mundo que está preparado para um mergulho interno.

Para ele, aquele horizonte imenso trazia paz e familiaridade. Conseguia fazer com que seus pensamentos fluíssem e se organizassem. Quando estavam alinhados e dando as respostas que procurava, Alexandre voltava ao trabalho, que consistia em esperar o que as equipes de busca trouxessem do mar. Esperava ansioso como as famílias dos pescadores. Mas, naquele dia foi diferente. Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz feminina.

- Bonjour.

Fazia muito tempo que Alexandre não ouvia alguém falar francês com perfeição. Muito menos com uma voz feminina. Sentiu um pouco de nostalgia. Sua memória disparou imagens de Paris e a sensação gustativa do suflê de queijo servido no Le Deux Magots.

- Bonjour ... madame?

- Mademoiselle ... (sorriu), ou senhorita se preferir.

Alexandre se surpreendeu. Lígia falava português. E sorria ...

♦♦♦

Ah ... a vida é bela e pode ser muito boa quando deixamos de sentir medo, não é mesmo? Aí vocês devem estar se perguntando: "Do que o Ricardo está falando?"; e eu respondo: "Até o final dessa Blog-Novela, vocês saberão ... " Estamos navegando em oceanos de mistérios altamente misteriosos.

Por enquanto, vamos às outras perguntas. E agora? O assassino morreu ou escapou? Pode ser que nem tenha embarcado. E Lígia? Quem é essa deusa? Qual será o seu papel nessa história? E Alexandre? Será que vai resistir ao sorriso da elegante investigadora? Meu cérebro está borbulhando, e o seu? Aguardo ansiosamente os seus comentários ... hehehe!

Mas, sempre lembrando que essa Blog-Novela é uma obra de ficção e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, e fatos reais terá sido mera coincidência.

E como diz o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife e, em seguida, aqui no nosso podcast: "Um abraço! Bom café!"

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Doce de leite com café


Romoaldo de Souza

Essa receita é para quem tem braço, uma receita para os fortes, porque exige muque. É a receita do Doce de Leite com Café inventada pela Doces Cambuquira, lá de Cambuquira, em Minas Gerais, no chamado Circuito das Águas. Você tem preparo físico e coragem? Então vamos lá:



Ingredientes

- 10 litros de leite
- 3 kg de açúcar cristal
- 500 ml de café forte coado
- 50 g de glucose de milho

Preparo

Num tacho, ferva o leite com o açúcar. Vire parte da mistura num recipiente à parte, deixando no fogo apenas um quarto. Quando levantar fervura, baixe o fogo e adicione mais um quarto da mistura ao tacho. Repetir a operação, sucessivamente, até que acabe todo a mistura reservada. Acrescente a glucose de milho e deixe a mistura ferver. Acrescente o café um pouco antes de dar o ponto, que é obtido quando o doce escorrer lentamente da colher. Tirar do fogo e bater durante 15 minutos, com colher de pau. Rende aproximadamente 2 kg.

Um abraço e bom café!

Café, Gente e Papos Bacanas 2


Ricardo Icassatti Hermano

Quando me perguntam o que é "gente bacana", sempre respondo que é gente que não prende a imaginação, não reprime o pensamento, não segura as ideias e não freia a conversa. É o tipo de gente com quem gosto de conviver, conversar e tomar um café.

Ainda bem que conheço muita gente assim. Não estou dizendo que só conheço gente bacana. Conheço outras tantas que não são nada bacanas e de quem me esforço para manter uma distância profilática. Antibiótico não dá jeito nesse pessoal. Então é melhor prevenir, como se faz no chamado "sexo seguro".

Hoje trago mais um vídeo da série Coffee and Cigarettes. Trata-se de um genial filme de comédia criado e dirigido por Jim Jarmush, que reúne 11 curtas-metragens sobre personagens reais e/ou imaginários que têm em comum o fato de estarem tomando café, fumando e conversando sobre vários assuntos.

Encontramos no ¥ouTube alguns trechos desses curtas e vamos postar aqui na nossa nova série "Café, Gente e Papos Bacanas". Também vamos conversar com pessoas interessantes e compartilhar com vocês em texto, vídeo ou podcast. Sempre acompanhados de um bom café, claro : ) Assista o vídeo de hoje, com os peso-pesados Iggy Pop e Tom Waits.


domingo, 26 de junho de 2011

Meia Noite em Paris - Woody Allen em sua melhor forma


Ricardo Icassatti Hermano

Woody Allen é um gênio. Fico encantado em reconhecer. Mesmo depois de uns filmes fracos, que alguns apressadamente já classificavam como indício da decadência criativa, o diretor novaiorquino pega um tema simples, a nostalgia de um passado que imaginamos melhor que o presente mesmo não tendo vivido nele, e o transforma em arte fenomenal.

Só esse cartaz já me levaria ao cinema. Sou fã de Van Gogh e,
especialmente, desse quadro "Noite Estrelada"

Foi o que Allen fez com o seu recente Meia Noite em Paris. Obviamente, os elementos constantes em sua extensa obra estão todos lá. A aversão a pseudo-intelectuais é uma delas. Confesso que compartilho da mesma aversão. No filme, o diretor esculhamba de forma magistral um desses idiotas mostrando que a erudição que arrota o tempo todo se iguala à preleção de uma guia de turismo. Melhor, nem a isso, pois as informações que arrota ainda estão erradas ...

O barbudinho é o idiota pseudo-intelectual ...

Conheço alguns desses pseudo-intelectuais no universo em que trabalho, o jornalismo político. Como bem retrata Woody Allen, são todos barbudinhos, pedantes e fraudes. Decoram resenhas, capas de discos, orelhas de livros e ficam citando aqui e acolá aquelas bobagens padronizadas. Teve um que quis me convencer de alguma idiotice esquerdóide, citando Maquiavel e dizendo que eram palavras saídas da obra de Weber. Patético.

Com um diretor como Woody Alen, até o Owen Wilson faz bonito

O filme, vamos ao filme. Fantástico, soberbo, genial. Tudo no filme é bom, incluindo a atuação do alter ego do diretor, Owen Wilson, interpretando o roteirista de cinema Gil Pender, que sofre dessa nostalgia de uma "Era de Ouro", na década de 1920, quando Paris reunia gente como Ernest Hemingway, Zelda e Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Salvador Dali, Luis Buñuel, Cole Porter e por aí vai.

Gil Pender está noivo de Inez, uma chata de galocha, interpretada pela gata Rachel McAdams. Eles viajam para Paris com os pais dela para "reacender a chama". O roteirista está entediado com a profissão e está tentando escrever um romance de peso. Ainda não percebeu que o tédio se estende também ao noivado.

Paisagem de Monet ... e a chata, chateando ...

Antes do filme, Little Mary e eu fomos jantar. Nossa conversa passeou por vários assuntos até que nos detivemos na relação amorosa entre homem e mulher. Falamos sobre os sinais que nos mostram quando uma relação começou a descer a ladeira. Contei a ela como é importante perceber o primeiro sinal e tomar logo as providências necessárias. Em seguida, vimos exatamente isso no filme, com a noiva do roteirista, que tem a mesma chatice mau caráter da ... deixa pra lá : )

O filme. Certa noite, Gil sai de uma degustação de vinhos e resolve caminhar até o hotel. Inebriado com a beleza da cidade, para numa esquina e senta numa escadaria. Quando o relógio bate meia noite, um carro antigo surge na rua. A porta se abre e várias pessoas em clima de festa o chamam. Lá dentro, o casal Zelda e Scott Fitzgerald. Sem saber como ou porquê, Gil Pender realiza sua fantasia de conhecer o passado que tanto ama e magicamente retorna no tempo.

Gil Pender realiza o sonho de conhecer a Paris da "Era de Ouro"

A viagem no tempo se repete noite após noite, com todas as situações conflituosas inerentes, até que ... bom, aí é melhor eu parar senão estrago o cinema de vocês. Não suporto gente que conta o filme inteiro e estraga o meu prazer. A expectativa da surpresa é um dos motivos que me levam ao cinema. Fomos na última sessão de uma sexta-feira de um feriado prolongado. Ou seja, Brasília é uma cidade deserta nesses dias, mas a sala do cinema estava lotada.

Eu nem acho a Carla Bruni essa Brastemp toda,
mas ela tem um poder estonteante quando fala

O filme é deslumbrante e Woody Allen sabe como ninguém transformar Paris - ou qualquer outra cidade - num dos melhores personagens. E vamos combinar, que cidade meu Deus ... Ainda tem a Carla Bruni de lambuja. Imperdível! Veja o trailer.



sábado, 25 de junho de 2011

Café, Gente e Papos Bacanas


Ricardo Icassatti Hermano

Quando me perguntam como seria a minha cafeteria ideal, sempre respondo que é o lugar onde eu possa desacelerar o corpo e acelerar a mente. A partir desse conceito, o resto vem naturalmente, como o visual, o conforto, as comidinhas, o atendimento e a trilha sonora. Claro que um componente importantíssimo neste quadro é o próprio café, cuja qualidade tem que ser inquestionável.

Existindo tal lugar, é para lá que gostaria de levar gente bacana e interessante para entrevistar ou simplesmente conversar. O café nos permite esses momentos de puro prazer convivencial. Quando temos o cuidado de ver o outro como um igual e de estabelecer um senso de respeito e abertura para se fazer presente, o café funciona como potencializador dessa atenção, desse foco.

E o que acontece é que conseguimos acomodar na mesma mesa café, gente e papos bacanas. Não estou dizendo que todo mundo que vai a uma cafeteria é bacana. Conheço muita gente que não é bacana de jeito nenhum e até possui cafeteria ... O café também tem essa característica, é absolutamente democrático. O bom é que as pessoas bacanas sempre poderão encontrar uma cafeteria igualmente bacana.

Mas, para demonstrar o que uma fumegante caneca de café pode inspirar, trago para vocês - e continuarei trazendo mais - um vídeo bacana, que reúne gente bacana e criativa num papo bacana : ) É muito bacana pra você? Então espere só até assistir esse vídeo. Antes, porém, prepare uma bela caneca de café para você.



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cursos na Grenat Cafés Especiais


Ricardo Icassatti Hermano

Essa é para quem quer dar um upgrade na relação que mantém com o café. A Grenat Cafés Especiais (SCLS 202, Bloco A, loja 4) anunciou novos cursos em sua nova unidade a Grenat Roastery, que fica exatamente do outro lado da rua, onde será instalado o novíssimo forno de torra e onde também está a "sala de aula".

Abrindo aspas rápidas, com esse forno de torra a Grenat dá um passo importante na direção da independência em relação a São Paulo, transformando Brasília num centro fornecedor de excelentes cafés. A partir disso, as super poderosas meninas Sturba poderão também exercer o ofício de Coffee Hunter e procurar por bons cafés plantados no Centro Oeste. Uma bela e benvinda iniciativa.

Mas, voltando ao assunto desse post, nos próximos dois meses - julho e agosto - a barista Luciana Sturba ministrará os seguintes cursos:

Barista Júnior
5 a 8 de julho
16 a 19 de agosto
Horário: 19h às 22h
Custo: R$ 540 - podendo ser dividido em três vezes

Café Caseiro
17 e 18 de julho
12 e 13 de agosto
Horário: 19h às 22h
Custo: R$ 120 - podendo ser dividido em duas vezes

Nos dois cursos, a primeira parcela deverá ser paga no ato da inscrição. Se você quer saber mais sobre a forma de preparar essa bebida cheirosa, animadora e gostosa, não perca essa oportunidade. Você não vai se arrepender : )

Arroz doce com café!


Romoaldo de Souza


Tem gente que - não é o meu caso - que fica reclamando das Festas Juninas, da comilança, das bebidas quentes. Tem gente que reclama de tudo.


Aqui não. Ao contrário do dia a dia de muitos profissionais que já chegam despejando a carga negativa da vida na mesa de trabalho, nós estamos com o astral positivado. Recarregado!


E para esta sexta-feira, Dia de São João, fomos buscar uma receita publicada na Revista Espresso: Arroz doce com café!



Um abraço e bom café!


Morte na Esplanada - Capítulo 7


Ricardo Icassatti Hermano

Caríssimas(os) Leitoras(es), hoje eu quero apenas agradecer toda a colaboração e força que vocês têm me enviado. Meu mais sincero e afetuoso: Muito Obrigado!

Dito isso, você viram no capítulo passado que o delegado Alexandre Dantas nos conheceu. A cena foi inspirada no filme "Mais estranho que a ficção". Gostei de escrevê-la porque assim pude homenagear o meu sócio no blog, o Romoaldo de Souza, aquela voz que vocês ouvem de segunda a sexta no podcast e na rádio CBN Recife, falando sobre Sua Majestade o Café e suas infinitas possibilidades.

Mais que um sócio, mais que um amigo, Romoaldo é um irmão escolhido, que me lembra todos os dias o valor da lealdade. Aliás, ele é outra pessoa a quem não me canso de agradecer.

Vamos ter nova personagem na trama. Só posso adiantar que foi baseada em sugestões das leitoras @raquelralves e @lucobucci e que vai entrar na trama mais para a frente.

Agora, fiquem com o 7º capítulo de "Morte na Esplanada", sem esquecer da sua caneca de chocolate quente - afinal, entramos oficialmente no Inverno -, o pijama de flanela ou seda vermelha, o edredon e o som na caixa, porque a trilha sonora está logo aí abaixo. Divirtam-se!




Morte na Esplanada

Capítulo 7

Após a reunião na cafeteria Grenat Cafès Especiais, o delegado Alexandre Dantas foi se encontrar com o diretor Miguel Brochado, que já havia ligado trocentas vezes querendo um relatório completo da investigação. Pablo já havia preparado uma pasta com todas as informações atualizadas.

- Boa tarde, Brochado.

- Senta aí Alexandre. Espero que você tenha trazido o relatório que pedi.

- Está aqui - Alexandre colocou a pasta sobre a mesa.

- E o que você descobriu até agora?

- Até o momento, o mais importante é o possível envolvimento do serviço secreto francês no assassinato da ministra.

- Isso já está dando a maior merda. Vocês entraram em contato direto com o embaixador da França e o Itamaraty já está dando chiliques. O embaixador está puto porque ou não foi avisado pelo governo francês da presença de um agente do serviço secreto no Brasil, ou porque estariam suspeitando do envolvimento logístico da embaixada no crime. O presidente me ligou querendo saber o que estava acontecendo. Aí entrou o SNI, a Casa Civil, o secretário geral da Presidência, o ministro da Defesa, os presidentes do Senado, da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal e o caralho a quatro. Todo mundo quer saber o que está acontecendo, mas você estava morrendo no hospital e ninguém da sua equipe sabia de nada. Aliás, você não estava morrendo?

- Estava, mas o Dr. Hamilton, que é um gênio, estuda os sapos venenosos do Cerrado e estava trabalhando justamente num antídoto para aquele tipo de veneno de sapo e ...

- Veneno de sapo? A ministra Sueli morreu envenenada com veneno de sapo?

- É, está tudo detalhado aí no relatório. Mas, o importante é que o antídoto funcionou e agora estou bem. Voltei à investigação. O senhor não está feliz que eu tenha sobrevivido? - Alexandre se contorceu para não rir.

- É ... (cara de abestado) E essa história sua com o assassino?

- Eu me encontrei com ele por acaso no gabinete da ministra. Fui lá para pegar uma evidência antes que liberassem a sala e ele estava lá. Lutamos com facas e eu cheguei a nocauteá-lo, mas o cara conseguiu me injetar o veneno quando eu me preparava para algemá-lo. A partir da tatuagem que vi no antebraço dele, chegamos ao serviço secreto. Mas, ainda não temos certeza de que ele continua no serviço secreto. Por isso, precisamos que o governo peça, através dos canais formais, informações sobre isso.

- O que mais vocês conseguiram?

- O nome do assassino é Gaston Perrin e é oriundo do Commando Hubert, uma força de elite da Marinha Francesa. Está tudo detalhado no relatório. Mas, gostaria de lembrar que, devido ao envolvimento das altas esferas dos governos brasileiro e francês, que o sigilo é fundamental para o desenvolvimento da investigação ...

- Sigilo, Alexandre? Sigilo? Vou agora para uma reunião na Presidência da República com cópias desse relatório para um monte de gente, incluindo os fofoqueiros do SNI. Você acha que vai levar quanto tempo para isso cair na imprensa? Aquele bando de matracas do Palácio do Planalto não fazem outra coisa que não seja vazar informação para a imprensa.

- Também acho difícil, mas seria prudente, nessa reunião, pedir sigilo e o esforço do governo para obter as informações junto ao serviço secreto francês ...

Alexandre saiu do encontro, por um lado, aliviado com o fato de que a investigação perderia o sigilo mas, por outro lado, sabendo que sua vida estaria em perigo assim que terminasse a reunião no Palácio do Planalto. O partido que chegara ao poder já tinha uma longa lista de assassinatos "suspeitos" em sua folha corrida. Eles tinham uma predileção por correligionários e o delegado não estava a fim de ser o "diferente" naquela lista.

Dirigiu um pouco pela cidade, sem um destino certo. Parou num grande shopping e procurou por um telefone público. Puxou um cartão do bolso e discou um número.

- Alô, aqui é o delegado Alexandre Dantas.

- Em que podemos ajudá-lo, delegado? Ainda é a dúvida sobre o sabor de azeitona no café?

- Não, preciso que vocês enviem um recado para o Jaílson.

- O bicho está pegando para o seu lado delegado?

- Vai pegar e eu preciso me encontrar com o Jaílson o quanto antes. Anotem o endereço.

- Pode deixar. O Romoaldo já está ligando para ele no outro telefone. Você faz bem em se resguardar.

No dia seguinte, o jornal onde Jaílson trabalha estampou na primeira página a foto dos pacotes de dinheiro, as barras de ouro, os diamantes e os passaportes encontrados no cofre da ministra. A matéria contava como a ministra foi morta, o disfarce utilizado pela assassino e a foto do seu rosto. Ele tinha linhas duras, características da vida militar, queixo quadrado, rosto grande, pescoço grosso e ombros largos. Dava para ver que se tratava de um sujeito forte. Altura de 1,71, a mesma de Alexandre. Pele clara, cabelos e olhos castanhos escuros, nariz grande e fino. Provavelmente oriundo do Sul da França.

A história estava quase toda lá, com exceção das peripécias eróticas da ministra, e ninguém poderia dizer de onde veio. Mas, todos agora sabiam que Alexandre tinha a melhor apólice de seguro de vida: informação. Com isso, ninguém encostaria um dedo nele. Pelo menos por enquanto.

Alexandre falava ao telefone em sua sala quando Rômulo entra sem bater.

- Temos uma pista do Gaston.

- Te ligo depois - disse Alexandre antes de colocar o fone no gancho.

- Onde?

- No Rio de Janeiro. O gerente de um hotelzinho ligou dizendo que o homem da foto no jornal está hospedado lá.

- Vamos pegar esse cara.

- O carro já está esperando para nos levar ao aeroporto.

- Todo mundo equipado?

- Está tudo no carro.

- Então vamos!

Meio dia, sol a pino. O Hotel Ypacaraí, nome de um dos maiores lagos do Paraguai e que, em língua Guarani, significa "Lago do Senhor", tinha apenas quatro andares e ficava numa ladeira íngreme de Copacabana. Era uma espelunca remanescente dos anos 50, encravado no final da rua sem saída, pacata, arborizada, com vários pequenos prédios de apartamentos. O hotel era o último desses prédios e ficava encostado num pé de morro. Do outro lado, colava parede com outro prédio residencial, também de quatro andares. Mas, como estavam numa ladeira, o teto do prédio vizinho era um metro e meio mais baixo. O mesmo ocorria com os demais prédios da rua, um mais abaixo que o outro, formando uma espécie de escada. Atrás, havia uma pequena área aberta cercada por um muro alto, com mais ou menos três metros de altura.

As viaturas policiais bloquearam a entrada da rua. Os agentes foram divididos em três grupos. Um entraria pela frente do hotel. O segundo grupo pelos fundos e o terceiro grupo, comandado por Gabriel, entraria pelo teto do prédio vizinho. Alexandre estava no primeiro grupo junto com Rômulo e Pablo, vestidos normalmente para não chamar a atenção. O gerente entregou uma chave ao delegado e disse que o francês estava no quarto 403.

- Ele chegou ontem à noite. Hoje de manhã, desceu para o restaurante, tomou café e voltou para o quarto. Ainda está lá ... - disse o gerente, com voz trêmula e suor na testa.

- Você tem certeza? - perguntou Alexandre.

- Eu não vi ele descer ... e a chave dele não está aqui no escaninho ... então, eu acho que sim ...

- Agora, eu quero que você e seus funcionários saiam daqui e fiquem com os policiais lá no início da rua. Entendeu?

- Mas, e os outros hóspedes?

- Já estamos ligando para os quartos e instruindo para que tranquem as portas e fiquem lá até que possamos liberá-los. Não deve demorar muito. Queremos entrar, prender e sair o mais rápido possível. Agradeço muito a sua cooperação. Esses agentes vão acompanhá-los.

- Mas, vocês vão arrombar porta, quebrar os móveis? Quem vai pagar o prejuízo?

Alexandre não resistiu. Pegou um pedaço de papel e foi anotando enquanto falava e segurava o riso.

- Qualquer prejuízo material deve ser encaminhado a esse senhor, Miguel Brochado, neste endereço. Os telefones dele são esses aqui. Não se preocupe, o hotel será totalmente ressarcido de qualquer dano.

- Sim senhor.

Alexandre colocou o colete à prova de balas e pegou sua pistola Glock 22, calibre .40, verificou se o pente estava carregado e engatilhou. Ao seu lado estavam Rômulo com uma submetralhadora israelense UZI SMG calibre 9mm, e Pablo levava uma espingarda de repetição PGS-12. Outros três agentes portavam armamento igualmente pesado.

- Todo mundo pronto?

- OK!

- Daqui pra frente, silêncio total. O cara deve estar armado e é perigoso. Atenção! Quero levar o homem vivo e não quero ter nenhuma baixa. Vamos ...

Todos os agentes estavam estrategicamente distribuídos pelo corredor onde ficava o quarto do assassino. Alexandre se aproximou da porta e colocou um estetoscópio nos ouvidos. Encostou a ponta na porta e procurou ouvir algum som. Nada. Repetiu o gesto em vários pontos diferentes da porta. Parou num ponto quando ouviu o som de uma televisão, baixo.

O delegado foi obrigado a presumir que o assassino estivesse ainda no quarto. O fato do som da TV estar mais baixo que o normal, apenas despertou mais ainda o sentido de alerta de Alexandre, pois isso significaria que o assassino também estava preocupado em poder ouvir quaisquer sons que fugissem à normalidade.

Ele se voltou para os agentes e, com sinais de mão, reforçou a ordem de silêncio absoluto e avisou que todos se preparassem para a invasão. Em seguida, colocou a mão na maçaneta da porta, mas Pablo segurou seu braço.

- O cara foi de uma força especial. Deve ter alguma armadilha aí - cochichou bem lentamente.

- Tem razão. Vamos usar a câmera de inspeção.

Um tubo flexível com uma câmera na ponta, foi introduzido sob a porta. Lentamente, virou à esquerda e à direita. O monitor nada mostrou além da cama e da porta do banheiro. Virou para cima e parou. Junto à maçaneta, duas granadas de alta potência enroladas com silver tape. Bastaria baixar a maçaneta ou derrubar a porta para retirar os pinos e as granadas explodirem, matando todos que estivessem diante da porta.

A armadilha mostrou que o francês não estava mais lá. Deve ter visto a sua foto no jornal e fugido. Mas, deixou a armadilha para matar os policiais. Alexandre percebeu o plano de criar um desastre que tirasse o foco do assassino por tempo suficiente para a fuga. A janela aberta mostrou qual foi a rota de fuga do hotel. Mais tarde, Gabriel trouxe uma guimba fedorenta de cigarro da marca francesa Gauloises. Ele havia fugido pelos telhados.

A porta foi então cuidadosamente desmontada pelos ferrolhos e as granadas desativadas pelo pessoal do esquadrão anti-bombas. Uma varredura preventiva ainda encontrou outras duas granadas colocadas da mesma maneira na porta do armário. O assassino queria mesmo um banho de sangue. Alexandre viu naquelas armadilhas um sentimento de vingança de Gaston. Ainda deveria estar "magoado" com o corte e a surra que levou uns dias antes.

Sobre o criado mudo, um bloco de notas. Alexandre viu que algo havia sido escrito na folha de cima, já arrancada. Usando o truque mais manjado do mundo, passou um lápis por cima das depressões e leu o nome de uma companhia aérea e, embaixo, um horário: Lufthansa, 21h48. O delegado olhou para o relógio. Eram 18h em ponto.

- Ele está no aeroporto! - gritou.

As viaturas partiram em disparada com as sirenes abertas. Mas, logo encontraram engarrafamento. Era o horário de rush. Um trajeto que normalmente levaria de 20 a 30 minutos, levou quase uma hora. Isso porque se tratava de um comboio da Polícia Federal e os motoristas se esforçavam em dar passagem.

Às 18h57, Alexandre, Pablo, Rômulo, Gabriel e mais uma dezena de agentes, correram até o salão de embarque do Aeroporto do Galeão. Nunca iria chamar aquele aeroporto de "Tom Jobim". Ele costumava dizer a quem perguntasse o motivo: "Só porque o cara fez uma música em que cita o Galeão e diz que gosta do Rio de Janeiro? Eu fiz uma poesia para uma aeromoça carioca, até namorei com ela, e nem por isso colocaram meu nome em qualquer aeroporto".

No salão, já aguardavam vários agentes federais que trabalham na área de verificação de passaportes. Todos tinham em mãos a foto de Gaston, mas ninguém o vira passando pelo controle. Alexandre sabia que seria quase impossível pegarem um agente que pudesse mudar o rosto com tamanha perfeição. Certamente, ele estaria transformado em outra pessoa, que tanto poderia ser homem ou mulher, inclusive com documentos. Ele reuniu todos os agentes e passou rapidamente as instruções.

- Procurem em todo canto, nas salas de embarque, nas lanchonetes, no free shop, nos banheiros. Como ele deve estar disfarçado, prestem atenção nos olhos, no olhar. Esqueçam o resto. Ele pode se parecer com qualquer pessoa, mas os olhos serão os mesmos. Lembrei de um detalhe, ele fuma Gauloises, que é feito com tabaco escuro da Síria e da Turquia. Vocês vão sentir o cheiro forte quando estiverem perto dele.

A busca teve início, mas Alexandre estava preocupado com a maneira ostensiva que deveria ser feita. Não havia tempo para ser discreto. Eles corriam contra o relógio. O delegado reuniu sua equipe e, à paisana, foram direto para a sala de embarque da Lufthansa. Ele se ocuparia de tentar reconhecer Gaston e os demais cuidariam da sua segurança, pois o assassino também poderia reconhecê-lo. Os outros agentes percorriam o restante.

Alexandre circulou um pouco e decidiu sentar-se num ponto de onde poderia observar toda a sala, quem entrasse ou saísse. Pablo, Rômulo e Gabriel se colocaram em pontos equidistantes. Se Gaston entrasse naquela sala, disfarçado ou não, eles o pegariam. O delegado olhou para o relógio. Eram 19h05. Ainda tinha bastante tempo até a partida daquele vôo.

Uma agente do aeroporto entrou correndo na sala procurando por Alexandre. Ela trazia na mão direita a foto de Gaston. O delegado pulou da cadeira. Ela não estava com os outros agentes quando ele passou as instruções.

- Eu vi esse sujeito ... - disse a esbaforida agente, quase sem ar nos pulmões.

- Eu chequei ... passaporte dele ... belga ... cabelo loiro, bigode ... óculos ... fundo de garrafa .. os olhos ... os olhos ... iguais ... arf, arf, arf ... fedor do cigarro ...

- Onde?

- Air France ... - disse a agente, curvada no esforço de respirar e apontando a direção da sala de embarque.

Alexandre e sua equipe correram até a sala, que estava vazia. Um atendente gordinho organizava vários bilhetes de embarque e falava de vez quando ao rádio.

- A que horas sai o vôo da Air France? - perguntou Alexandre, mostrando o distintivo.

- O próximo?

- Como assim?

- Acabou de sair o das 19h. Só atrasou três minutos - sorriu o orgulhoso atendente.

Alexandre olhou para o relógio. Eram 19h16.

- Que vôo é esse?

- É aquele ali que acabou de decolar - apontou pela janela o atendente.

Um enorme Airbus A 330-203 rugia ferozmente, cuspindo fogo pelas turbinas enquanto atravessava a estrelada noite carioca em direção a Paris.

- Qual é o número desse vôo?

- Esse aí é o Air France 447. Deve chegar amanhã cedo em Paris, por volta das 6h, no aeroporto internacional Charles de Gaulle.

♦♦♦

Então? Estou entregando as fortes emoções prometidas? O que eu sei é que estou pulando aqui na minha cadeira enquanto digito as aventuras e os perigos de "Morte na Esplanada". Parece até que estou me desviando das balas!

Não sei como, mas as palavras vão surgindo na minha cabeça e construindo as situações que vocês estão lendo. Tenho apenas uma vaga ideia do que vai acontecer no próximo capítulo. Daí ouço e leio os comentários das(os) leitoras(es) e deixo fluir. Está funcionando : )

Portanto, continuem nos abastecendo com sugestões, críticas, dicas, reclamações e opiniões. Essa colaboração tem sido muito frutífera. Espero que estejam gostando, porque eu estou, como diz o jornalista Apolos, "com certeza!!!" . Até o 8º capítulo.

E como bem recomenda o Romoaldo todas as manhãs, de segunda a sexta-feira, em nosso quadro na CBN Recife: "Um abraço! Bom café!"