quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sobrevivência, Inteligência e Competência


Ricardo Icassatti Hermano

Nos últimos dois dias, parei para assistir maravilhado o resgate dos 33 mineiros chilenos presos desde o dia 5 de agosto a mais de 600 metros de profundidade, em uma mina que desrespeitou regras básicas de segurança. Aprendi um bocado sobre minas, geologia e resgate. Mas, principalmente, aprendi muito a respeito de sobrevivência, união, foco e liderança.

Alegria ao fazer contato com o mundo exterior

Muito se falou sobre o episódio, inclusive estultices como chamar os mineiros de "heróis". Não há heroísmo nesse episódio. Há um monte de outras coisas bacanas, como as que já enumerei no parágrafo anterior. Heroísmo é outra coisa. O que vimos foi a sobrevivência explícita, nua e crua, com detalhes que não conhecíamos e com todas as emoções envolvidas.

O bilhete que marcou o primeiro contato

Além de parar de subverter o significado das palavras, os jornalistas brasileiros que cobriram o resgate também poderiam se informar melhor, porque deram um show de ignorância, pois não sabiam sequer identificar um simples moitão (ou roldana). Mas, não chegou a ser um desapontamento generalizado. Talvez possam aprender algo se revirem a cobertura dos veículos de outros países.

Meu querido, moitão não é gancho.
O gancho é apenas para prender o moitão, viu?

Posso estar errado, mas me parece que o povo chileno alcançou um nível invejável de amadurecimento cívico e político. Esclarecendo, essa é uma inveja boa, se é que tal coisa existe. Após uma sangrenta ditadura militar, o Chile fez a sua transição para a democracia, guinou para a "esquerda" e depois para "direita", mas sem antagonismos inúteis. Preferiu se irmanar a alimentar o ressentimento.

Agora, os chilenos parecem ter encontrado um equilíbro no reencontro das suas raízes, dos seus melhores valores, da sua alma. Compreenderam que há um objetivo maior a ser alcançado e preservado.

Esperança e fé no sucesso do resgate

Acredito que os chilenos já tenham percebido que as divisões "ideológicas" sequer existem, senão na cabeça de quem aposta no conflito em vez da união e vê adversários ocasionais como inimigos a serem "extirpados". Não é o ódio ou o ego insuportável de um governante que vão construir e manter coesa uma nação. É a inteligência, a organização, o foco e a capacidade de entender o que é necessário para sobreviver.

Enquanto o governo chileno nos deu um exemplo magnífico de eficiência e de eficácia, o governo Lula nos envergonha ao não cumprir as promessas que fez às família dos - esses sim, heróis - militares mortos no terremoto do Haiti. Da mesma maneira, as famílias nordestinas que perderam tudo nas enchentes ocorridas em dois anos consecutivos e que ainda aguardam a ajuda prometida pelo presidente do "nunca antes nesse país".

A nação brasileira ainda tem muito a aprender e deveria começar prestando atenção ao que acaba de acontecer no Chile. Os bons exemplos vão do governo até as profundezas dos sentimentos humanos vividos por aqueles 33 mineiros enterrados vivos no deserto. Há 10 anos, estariam irremediavelmente condenados à morte. Mas, o governo chileno não se deteve diante de nada para resgatá-los.

Essa cápsula é o símbolo de tudo

Não houve espaço para vacilos, incompetência, burocracia, esperteza, oportunismo ou xenofobia. Da mesma maneira ágil e obstinada com que transpôs obstáculos logísticos, o Chile buscou e aceitou ajuda de outros países, organizações, empresas e profissionais. A NASA foi apenas uma delas. As comemorações que tomaram conta do país são mais que merecidas. O Chile deu um show de competência, de união e de civilidade. Podemos e deveríamos aprender muito com esse episódio.

O primeiro mineiro a sair do refúgio e renascer

E para não fugirmos à tradição do seu blog predileto, trouxemos uma receita típica da culinária chilena. Essa também é uma forma do Café & Conversa homenagear o povo chileno e os 33 sobreviventes que emergiram das profundezas graças à inteligência e ao engenho humanos. Arriba!

Pastel de Choclo
6 porções

Ingredientes

- 500 gramas de carne bovina moída (ou peito de frango desfiado e coxas)
- 3 cebolas grandes
- 3 dentes de alho
- Sal e cominho
- Passas e azeitonas
- 2 ovos cozidos (cada ovo cortado em 4)
- Óleo de Canola

Ingredientes para o creme de milho

- 6 espigas de milho médias frescas ou 2 latas de milho em conserva ou 1 kg de milho congelado
- 1 raminho de alfavaca
- Açúcar
- 6 coxas de frango

Preparo do refogado

Pique a cebola e o alho em cubos. Refogue em uma frigideira com o óleo. Adicione a carne bovina (ou o frango) e misture tudo. Cozinhe em fogo BAIXO mexendo lentamente. Coloque sal e cominho.

Preparo do creme de milho

Debulhe o milho e moa os grãos misturando com a alfavaca. Coloque em uma panela e leve ao fogo BAIXO. Cozinhe por alguns minutos (o milho em conserva já vem cozido, então basta aquecer).

O creme deve ficar um pouco grosso. Se estiver muito grosso, adicione leite. Se depois de cozinhar o creme ainda estiver muito líquido, engrosse com amido de milho. O creme deve ficar um pouco doce. Adicione açúcar se necessário.

Preparo final

Utilize recipientes individuais ou um recipiente grande que possa ir ao forno. Espalhe no fundo do recipiente o refogado de carne. Adicione as passas picadas e os pedaços de ovo cozido (ou 1 pedaço, em caso de recipientes individuais).

Caso decida adicionar as coxas de frango, coloque uma coxa de frango em cada vasilha individual, ou uma para cada convidado, distribuída no recipiente grande.

Espalhe o creme de milho sobre o refogado por igual em todo o recipiente. Coloque um pouco de açúcar em todo o creme para que se forme uma crosta dourada.

Leve o recipiente ao forno MÉDIO até que aqueça e doure a superfície.

Em caso de recipientes individuais, basta colocá-los sobre um prato e servir a cada convidado. No caso de um recipiente grande, corte em porções e sirva em cada prato, tendo o cuidado de manter a porção compacta. Acompanhe com um bom vinho tinto. Chileno, claro

Está servido?

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