sábado, 13 de fevereiro de 2010

Chéri, Madonna e Jesus ...


Cenário: Paris em plena Belle Époque, período também chamado Era de Ouro que foi do início do século XIX até a I Guerra Mundial. As monarquias ainda mandavam na velha Europa. Os nobres se entregavam à luxúria e enlouqueciam entre os braços e as pernas de prostitutas nem sempre lindas, mas certamente hábeis no métier do vuco-vuco. Paris era a capital mundial do pecado e o maior centro cultural do mundo. A vida poderia ser maravilhosa se você fosse bem nascido, mas provavelmente morreria cedo.

As gordinhas estavam com tudo no século XIX

Essas "cortesãs" também eram especialistas na arte de enriquecer às custas da nobreza sexualmente reprimida pela religião, educação rígida e obrigações regimentais. Soltar a franga num final de semana poderia custar alguns milhões em dinheiro, jóias, champanhe, roupas, obras de arte, propriedades etc. As famílias ricas também tinham interesse em iniciar seus jovens varões de alma, digamos, exacerbadamente feminina, com essas profissionais, antes de lançá-los em lucrativos e infelizes casamentos arranjados. Vide Charles e Diana e Camile ...

Quando chega nesse ponto, é irreversível

O fim das monarquias e a ascensão das repúblicas não significou necessariamente uma mudança nessa área. Basta ver o que os escândalos sexuais provocam na vida dos nossos nada republicanos políticos. Continuam reprimidinhos ... e cada país criou as suas próprias Sodomas e Gomorras, com profusão de trios elétricos e baladas. Paris ficou para trás nesse quesito. Incorporou a Disneylândia, se encheu de imigrantes pobres e virou atração turística para a classe média fascinada com o passado exposto nos museus.

Que marraviiiiilha!

Enfim, naquela época, as cortesãs eram o equivalente às celebridades lamentáveis que hoje frequentam a Ilha de Caras e posam para fotos com a genitália "acidentalmente" à mostra. As prostitutas do século XIX tinham mais recato e bom gosto.

Você aí se achando muito moderno e a sua bisavó já sabia das coisas

Bom, essa "pequena" introducão (êpa!) foi para que o(a) leitor(a) entenda melhor o filme Chéri, que assisti ontem acompanhado de Little Mary. Apesar de contar com a sempre deslumbrante presença da atriz Michelle Pfeiffer e a atuação segura da excelente Kathy Bates, o filme deixou a desejar. A história, baseada em duas novelas da escritora francesa Collete Renée de Jouvenel des Ursins (1873-1954), tem um bom gancho mas foi mal roteirizada ou mal editada. Com certeza foi surpreendentemente mal dirigida por Stephen Frears, responsável pelo laureado A Rainha.

Cartaz do filme

O rapaz que escolheram para o papel de Chéri, um tal de Rupert Friend, é simplesmente patético como ator. Não consegue disfarçar o seu incômodo nas cenas de nudez e sexo com a deusa Michelle Pfeiffer. Como se diz no popular, essa Coca é Fanta ... o negócio dele é balé clássico e pérolas cor de rosa.

Desiste meu chapa. Você não leva o menor jeito ...

Continuando, a aventura teve início no restaurante chinês da Academia de Tênis, onde jantamos antes do cinema. Little Mary não conteve a sua goianice e logo deu um jeito de acomodar as sobras num Tupperware. Ela me garantiu que aquela quantidade "enorme" de comida alimentaria a si e à sua secretária doméstica no dia seguinte. Eu juro que não sabia da prática de trabalho escravo na residência de Little Mary. O jantar terminou com um café abaixo de qualquer crítica.

As salas de cinema da Academia de Tênis são uma merda e a lanchonete serve o nauseante café Segafredo. É por isso que só vou lá uma vez a cada dois anos. É o tempo necessário para me esquecer como aquelas salas e o café são ruins. Minha televisão tem uma imagem melhor que as telas de lá. As poltronas parecem ter saído de alguma câmara de tortura da idade média. O ar-condicionado é brincadeira, sai de uma lateral da sala e deixa a gente com metade do corpo congelado. Quando for lá, faça como Little Mary e coloque alguém entre você o vento gelado ...

Ah! O filme! Pois é, a história retrata um costume daquela época. Mães preocupadas com certas tendências dos filhos e os lucros matrimoniais, se valiam dos serviços das cortesãs. Nem sempre dava o resultado esperado, é claro. O gancho do filme é que a mãe preocupada no caso é uma velha prostituta rica e aposentada, interpretada por Kathy Bates, que apela para a amiga também prostituta em vias de se aposentar, interpretada por Michelle Pfeiffer, para que salve seu filho de uma vida "sofrida" como a de um certo governador que está desfrutando o carnaval no xilindró. O rapaz do filme tem o apelido de Chéri ... não podia dar certo mesmo. Hoje, estaria dando aulas de Rebolation em Salvador.

É rebolation/É rebolation/É rebolation ...

As cenas com Pfeiffer e Bates até se seguram, embora os diálogos nem sempre. O resto do filme é um emaranhado de situações mal explicadas. A coisa só faz sentido se você tiver o conhecimento prévio dos costumes da época. Por isso, fiz a "pequena" introdução (êpa!) inicial. Caso você queira se arriscar, pelo menos saberá do que se trata e dos riscos que estará correndo, inclusive na lanchonete.

Em todo caso, veja o trailer.



O blog Café & Conversa assistiu o filme e não recomenda. A não ser que, como eu, você seja um fã incurável da Michelle Pfeiffer (suspiro) ou queira recomendar a fita para a Madonna e o seu menino Jesus Apaga a Luz ...

Ricardo Icassatti Hermano
Diretamente do retiro espiritual de carnaval

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